
Uma questão de ética: Novos mundos na nossa cabeça
No âmbito da terceira sessão do ciclo da Primavera 2023 “Uma questão de ética – "Cérebro e Saúde Mental”, esteve em debate o tema “Novos Mundos na Nossa Cabeça”, para refletir sobre as questões de identidade e o uso de psicadélicos na saúde. A iniciativa organizada pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) e o programa Ciência Viva decorreu, no dia 18 de maio, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. O evento contou com a presença de 29 participantes na sala e 65 a assistir à transmissão em direto online.
A presidente do CNECV, Maria do Céu Patrão Neves, abriu a sessão salientando que é necessário fazer uma “reflexão séria e ética sobre uma temática que a todos diz respeito e que deve ser perspetivada no sentido de investir na informação objetiva, racional e ponderada” de modo a construir um presente e futuro que possa contribuir para uma sociedade melhor. “É essa a missão que nos é dada todos os dias”, afirmou.
O psiquiatra da Infância e Adolescência, Rui Ferreira de Carvalho (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte), um dos oradores da sessão, reforçou a importância de “refletir em conjunto sobre questões que transcendem a ótica apenas da prática clínica e que acabam por chegar às temáticas transculturais e à componente social e ética”, sublinhando que mais do que respostas colocará no debate questões que o inquietam. A identidade de género é uma fatia pequena da nossa identidade, porque todos somos dotados de várias identidades (religiosa, pessoal ou profissional, por exemplo) que podem entrar em conflito, realçou. Consoante as culturas também vão mudando as perceções. Rui Ferreira de Carvalho considera ainda que temos uma visão muito ocidentalizada e dependente da ideia Eurocêntrica do que significa ser um homem ou uma mulher.
Também Margarida Crujo, psiquiatra da Infância e Adolescência na Cuf Descobertas, trouxe para o debate reflexões sobre a formação da identidade e os impactos na saúde mental. Quem sou e o que serei num mundo incerto e em mudança? A médica realçou que na construção da identidade a primeira identificação é com os pais ou com as pessoas com quem crescemos, mas mais tarde podem surgir crises de identidade e um conflito entre o que queremos ser e o que esperam de nós, por exemplo na família ou na escola. “É como se as nossas vontades em confronto com o mundo nos colocassem em constante duelo”, realça. “Como poderei salvar-me a mim?” é a pergunta que se impõe para nos protegermos.
A moderação do debate “Saúde mental e animais de companhia” esteve a cargo de Margarida Silvestre (Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida). Depois da intervenção dos oradores, contou com a participação da audiência presente na sala, sendo colocadas reflexões em cima da mesa como “até que ponto existe na sociedade atual uma obsessão com a unificação de identidade?” Mais uma pergunta para refletir sobre um tema complexo por natureza.
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Créditos das Imagens: Ciência Viva